20 de dez. de 2014

A NATIVIDADE DE CRISTO NA ARTE.

O período de Natal é a época em que os cristãos celebram o nascimento de Jesus, o qual, acreditam cumprir uma profecia do Antigo Testamento de que um Messias, o Cristo, viria ao mundo. O nascimento de Jesus Cristo e os acontecimentos que o cercam são tema de inúmeras obras de arte através da história. Convido-os a seguirem a história do Natal por meio de obras de arte.

ANUNCIAÇÃO:

Fra Filippo Lippi - The Annunciation – 1450

Nessa representação lindamente simétrica da Anunciação, o anjo Gabriel é apresentado à esquerda com asas de penas de pavão. Tradicionalmente se considerava que, no momento da chegada do anjo Gabriel, Maria estivesse lendo a profecia no livro do Antigo Testamento de Isaías o qual dizia que uma virgem daria à luz um filho.


Fra Filippo Lippi  - The Annunciation – 1450

Detalhe Virgem Maria lendo Profecia - The Annunciation –Fra Filippo Lippi  - 1450

No topo da imagem a mão de Deus pode ser vista enviando o Espírito Santo em forma de pomba, em direção ao ventre de Maria. A parte superior curva do painel indica que ele pode ter sido concebido como uma pintura de móveis, ou talvez para ser pendurado acima de uma porta, provavelmente em um palácio pertencente à família Medici.

      Detalhe mão de Deus.


Detalhe Espirito Santo em forma de pomba.

Abaixo do vaso com lírios, um símbolo da pureza de Maria, observamos entalhado na base um alto relevo de três penas dentro de um anel de diamantes. Este era um emblema adotado por vários membros da família Médici. Podemos ainda observar o anjo Gabriel ofertando um ramo de lírios a Virgem Maria.


         Detalhe alto relevo.

Detalhe Lírios ofertados Anjo Gabriel.

                     Detalhe vaso de lírios.


O SONHO DE SÃO JOSÉ: 

O fato de ser impulsionado para dentro do papel de "pai terreno" do filho de Deus deve ter sido um choque para José. O Evangelho de São Mateus descreve a visita de um anjo a José enquanto este sonhava lhe conferindo um pouco mais de conforto e paz de espírito.

Philippe de Champaigne, The Dream of Saint Joseph, 1642-3

No quadro podemos observar José adormecido em uma bela cadeira de braços em madeira nobre, talvez confeccionada por ele mesmo. As ferramentas de seu ofício como carpinteiro encontram-se ao seu lado no chão assim como suas sandálias. 

São José adormecido, detalhe.


      Detalhe, ferramentas e sandálias.


Detalhe, ferramentas e sandálias.


Um anjo que flutua no ar sob sua cabeça vem em sonho lhe dizer que pode se tranquilizar e que não deve hesitar em receber a Virgem Maria e seu filho como sendo sua família, pois que o menino que ela conceberá é de fato filho de Deus. A própria Virgem Maria, sentada mais ao fundo parece sentir a presença do anjo.


Detalhe anjo.


                       Detalhe Anjo e Maria.


Detalhe Maria.                     



O artista Philippe de Champaigne parece ter escolhido deliberadamente uma composição simples com blocos de cores vivas de modo que a pintura, que foi destinada a uma capela mal iluminada na igreja agora demolida do ”Minimes”  em Paris, pudesse ser facilmente vista.


Vue générale de l'église couvent des Minimes de la Place Royale à Paris.


NATIVIDADE:


No evangelho de Lucas, José e Maria viajam até Belém, cidade dos parentes de José, de forma a serem incluídos nos censos. Ao chegarem a Belém, não encontram vagas em nenhuma pousada e se abrigam em um estábulo onde Maria dará a luz a Jesus.


Geertgen tot Sint Jans, The Nativity at Night, possibly about 1490.

A pintura Geertgen tot Sint Jans é um dos primeiros exemplos de “chiaroscuro” destinando-se a acentuar os contrastes entre a luz real e a luz sobrenatural (Claritas Dei – Divina Claridade). A luz criada pelo homem é deplorável e não pode competir com a luz divina.

Neste belo presépio, a manjedoura incandesce de uma luz sobrenatural irradiada pelo menino Jesus que não está envolto em tecidos tradicionais, e sim, se encontra nu. Jesus é descrito na Bíblia como a luz da luz - "a luz verdadeira que ilumina todo homem que vem ao mundo" (João 1: 9). Mas a ideia da criança Cristo que ilumina a cena da Natividade vem dos escritos do século 14 de Santa Brígida da Suécia. Ela escreveu que em suas visões à luz da criança recém-nascida era tão brilhante "que o sol não era comparável a ele" e eclipsou a luz da vela de São José.


Detalhe Jesus irradiando luz da manjedoura - Geertgen tot Sint Jans, The Nativity at Night.


       Jesus envolto em luz.


A luz ilumina a noite muito escura, tão escura que mal se pode visualizar José nas sombras em pé ao fundo a direita da cena, em devoção. Nesta pintura, ele aparece como se tivesse sido originalmente retratado com uma vela que desapareceu após as restaurações iniciais. No entanto, você ainda pode ver sua mão parecer proteger alguma coisa, e sua face iluminada por uma luz fraca avermelhada que difere da fonte divina de luz que emana da manjedoura.


Detalhe José nas sombras.                        


São José protegendo uma vela imaginária


Detalhe rosto de São José.

Suavemente o boi e o jumento se destacam da escuridão bem em frente a manjedoura observando este pequeno milagre de luz.


Boi e jumento, detalhe.


A luminescência se faz mais presente nos rostos de Maria e dos anjos, seres considerados espirituais e santos que se encontram em estado de adoração.

                 Maria e anjos, detalhe



Além do presépio, podemos ver pastores com seus rebanhos em uma colina a distância. Eles estão agrupados em torno de um fogo que lança um brilho avermelhado, porém a luz que os ilumina é a que emana de um anjo que paira nos céus acima deles trazendo-lhes as boas novas.


Colina ao fundo com os pastores e o anjo – detalhe.


Detalhe – pastores e anjo.


OS PASTORES:

Pastores vigiavam seus rebanhos na escura noite em Belém quando um anjo iluminou os céus e lhes anunciou o nascimento de Jesus Cristo.


Guido Reni, The Adoration of the Shepherds, about 1640.

A obra acima datada de 1640 possivelmente fora uma encomenda feita ao artista Guido Reni pelo príncipe Karl Eusébio de Lichtenstein (falecido em 1684). Em sua pintura Reni assume uma perspectiva mais elevada na qual os anjos equilibram a composição refletindo ainda a luz vinda de Cristo recém nascido. Podemos observar os pastores, as pessoas humildes, jovens, velhos e crianças agrupadas em volta da criança divina, maravilhadas e em adoração.


Detalhe adoração pastores.   



Um exército de anjos ostentam um pergaminho com as palavras “Gloria In Excelsis Deo” (Glória a Deus nas alturas) da melodia que eles cantaram aos pastores para anunciar o nascimento de Jesus.


Anjos - detalhe.



A esquerda de Maria com as mãos unidas em oração encontramos José envolto em um manto cor de açafrão simbolizando a divindade e a sabedoria. Assim como Maria veste o manto azul que simboliza sua natureza espiritual e sua conexão com o mundo superior.



Detalhe José e Maria.



OS REIS MAGOS:


Humildes pastores não foram, porém os únicos visitantes a viajarem de longe para ver o bebê especial.


 Jan Gossaert, The Adoration of the Kings, 1510-15.

Os homens sábios vieram do Oriente a Jerusalém, teriam vindo para adorar o Cristo, nascido Rei dos Judeus, sempre seguindo uma estrela especial e luminosa a lhes indicar o caminho. Talvez, os sábios fossem astrólogos ou astrônomos, já que tinham conhecimento da estrela que os guiou até a região onde nascera Jesus, dito o Cristo. Os reis magos também sabiam se tratar do nascimento de um rei e por isto foram primeiro ao palácio do cruel rei Herodes em Jerusalém na Judeia. Perguntaram ao rei sobre a criança. Este disse nada saber, porém alarmou-se e sentiu-se ameaçado, pedindo aos magos que, se o encontrassem voltassem para lhe contar, pois queria adorá-lo também, embora suas intenções fossem as de matá-lo. Podemos observar esta estrela na obra de Jan Gossaert posicionada na parte superior da pintura diretamente acima do Menino Jesus, e um pouco abaixo veremos a pomba branca do Espírito Santo, sinal de Deus Pai.



Detalhe Estrela e Pomba Espirito Santo.


        Detalhe Estrela e Pomba Espirito Santo 


Os três sábios são mostrados aqui ricamente vestidos e ornamentados oferecendo presentes valorosos ao menino Jesus. Suas roupas luxuosas contrastam com as ruínas que envolvem os acontecimentos. Este tipo de cenário era comum ser retratado de forma a acentuar as divergências existentes, e, alguns artistas da época simbolizavam através destas obras o que na visão deles foi o colapso da antiga ordem pagã dando início ao cristianismo. Os sábios trouxeram ouro, incenso e mirra, (uma resina perfumada utilizada para embalsamar os mortos, símbolo do sacrifício futuro de Cristo).  Gaspar se ajoelha diante da Virgem apresentando moedas de ouro em um cálice. Melchior está atrás dele e Balthazar, o Rei Mouro, fica à esquerda.


Oferenda três reis, detalhe.


Detalhe  Gaspar.             


            Detalhe Melchior.


Detalhe Baltazar.             

"Entrando na casa, viram o menino, com Maria sua mãe. Prostrando-se, o adoraram; e abrindo os seus tesouros, entregaram-lhe suas ofertas: ouro, incenso e mirra. Sendo por divina advertência prevenidos em sonho a não voltarem à presença de Herodes, regressaram por outro caminho a sua terra."(Mateus 2:11-12)



A FUGA PARA O EGITO:

Quando Herodes percebeu que havia sido enganado pelos reis magos, ele ficou furioso e ordenou que fossem mortos todos os meninos com menos de dois anos em Belém e nas redondezas, contando com a referência de tempo que lhe havia sido passada pelos magos. Neste ponto se cumpriu então a profecia de Jeremias (Mateus 2:16-17). Após a partida dos sábios, o anjo do Senhor voltou a José, em sonho revelando-lhe o perverso plano de Herodes de procurar Jesus para matá-lo e assim José foge com Maria e Jesus para o Egito.


The Flight into Egypt about 1515 - Work of the Master of 1518  - This painting is part of the group: Two Panels from an Altarpiece. Oil on oak.¹


Maria, José e Jesus são retratados viajando para o Egito. Em segundo plano são mostrados os milagres do milho e da Estátua (lendas associadas com a Fuga para o Egito). No Milagre do Trigo, os soldados em perseguição interrogam os camponeses enquanto a família estava passando. Os camponeses afirmam, verdadeiramente, que estavam apenas semeando o trigo na ocasião, quando ele milagrosamente brota e cresce. No Milagre do Ídolo, uma estátua pagã cai de seu pedestal quando o Menino Jesus passa por ela sinalizando novamente a ascensão do Cristianismo e a queda, segundo a crença cristã, do paganismo, ou seja, da antiga religião.


Milagre do milho.


                Milagre da estátua.


Milagre da estátua,             detalhe.


Perto das pequenas casas ao fundo uma cena horrível está prestes a acontecer, o massacre dos inocentes, a matança ordenada pelo rei Herodes de todas as crianças menores de dois anos de idade. Vemos as crianças sendo tiradas de seus pais desesperados.


                                                    Detalhe do massacre dos inocentes.


Herodes esperava desta forma, garantir que o bebê Jesus fosse morto. Felizmente podemos observar que a criança continua segura embalada nos braços de Maria sendo amamentado, enquanto José levando a sua família em segurança para longe daquele lugar. A pintura mostra José levando mantimentos. Tem um chapéu de palha atrás de sua cabeça na altura exata onde se poderia intuir um Halo sagrado.


                       Jesus com Maria.


José, detalhe.                             

¹ O nome the Master of 1518  -o Mestre de 1518,  é aplicada a um pintor a quem muitas obras da Antuérpia no início do século 16 tem sido atribuídas. A data de 1518 se refere ao retábulo na igreja de St Mary, Lübeck do qual a Fuga  para o Egito faz parte.

Um comentário:

  1. Através da leitura minuciosa dos quadros acima podemos ver descrita em detalhes e belas nuances a história da natividade e do nascimento de Jesus. Simplesmente fascinante!

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