8 de nov. de 2015

A ARTE DO BORDADO E UM POUCO DE SUA HISTÓRIA. PARTE I

        "Bordar é pintar com agulhas." – ditado romano.

                                                                Bordado Hindu - Região Kutch.

A partir de um passeio ao Shopping onde pude observar uma forte tendência à volta do bordado étnico, não apenas no vestuário mais também em acessórios, me veio a ideia de pesquisar e me aprofundar um bocadinho mais nesta arte que é o bordado. Eis aqui o que descobri:

Vitrine da Arrezzo Shopping Iguatemi. (Foto: Vanessa Corecco Calado)


Interior Lojas Renner                                                                            Shopping Iguatemi. 
                                                                 (Foto: Vanessa Corecco Calado)        


                                       Interior Lojas Renner Shopping    Iguatemi (Foto: Vanessa Corecco Calado)

Interior Lojas Renner Shopping Iguatemi. (Foto: Vanessa Corecco Calado)                                     


Jaqueta étnica.


             Brincos com bordado étnico


Bolsa colombiana com                                                                                  bordado étnico - Wayuu.


Bordados étnicos em vestuário FARM.


Vitrine Lojas C&A Shopping Iguatemi. (Foto: Vanessa Corecco Calado)



Bordar é a arte de ornamentar os tecidos com fios diferentes, formando desenhos. Esse trabalho executa-se à mão ou à máquina, com agulhas de várias grossuras e feitios, inclusive as de gancho ou crochê, em alguns trabalhos são utilizados bastidores de diversos tamanhos. Os fios empregados para bordar podem ser os mais variados: de algodão, seda, linho, ráfia, ouro e prata, e ainda de fibra sintética, náilon, acrílico e celofane. O bordado, além dos fios, complementa-se com outros elementos que vão de materiais preciosos, como pérolas, pedras preciosas, cristais Swarovski, lantejoulas e canutilhos, até os mais rústicos, como sementes, conchinhas, palha, contas de vidro ou de madeira etc. O bordado pode ser plano ou em relevo.


         Camille Monet and a Child in the Artist's Garden in Argenteuil – 1875.


        Glass bead embroidery.


Haute Couture behind the scenes - the                       making of a dress, hand-embellished with Swarovski crystals.


Detail of the embroidery on the felted wool cape with metallic gold cord, c. 1900.



Bordado com pedrarias.                          


          Strass ejmbroidered - Naeem Khan.



Bordado com canutilhos,                                                                           pérolas e fios de ouro.


Elaborate gold embroidery on high-ranking French officer's uniform.



Bordado a branco com bastidor.        


Experts who work for Channel - Chanel beads embroidery.




Silver embroidery.                             


      Bordado fios coloridos.



Bordado em tons de azul em bastidor.



Zardozi embroidery  literally means “sewing with gold” and is originally a Persian art form. It involves creating designs with gold, silver and colorful metal threads.


    Linhas de algodão para bordado plano.



Swarovski-crystals                                                                    Embroidery.



19th century Culture Albanian Medium silk, metal, wool embroidery Vest.






















Materiais para bordado.      


Os registros históricos do ponto cruz remontam a pré-história onde tem início a História da Arte de bordar. No tempo em que os homens habitavam cavernas, o ponto cruz era usado na costura das vestes, feitas de peles de animais curtidas, que as deixavam maleáveis. Arqueólogos encontraram agulhas com idades de 40 mil anos em cavernas paleolíticas, geralmente feitas de marfim de mamute, ossos de rena ou presas de leão marinho. Com estas agulhas e com a utilização de tripas e tendões secos de animais ou fibras vegetais, (hoje usamos as linhas) foi possível costurar pedaços de peles e moldá-los ao corpo. O resultado desta forma de bordar ainda pode ser visto nas vestimentas dos esquimós ou Ínuits.

Existem relatos de que o bordado seja tão antigo quanto à humanidade e de que o bordado com aplicações já era apreciado pelo homem há 30 mil anos a.C.
Os mesmos baseiam-se em uma descoberta arqueológica feita na Rússia onde foi encontrado um fóssil cujas vestes estavam preservadas por conta do frio ao qual ficaram expostos, e se encontravam adornadas com grânulos de Marfim bordado.

Por terem sido manufaturados em material perecível, os tecidos mais antigos bordados não se conservaram. Para estudá-los é preciso recorrer à documentação fornecida por monumentos antigos, em cujos baixos-relevos, esculturas, pinturas e gravuras são amplamente representados.



Agulhas de ossos provenientes de Shuidonggou 12. (Imagem de YI Mingjie)






















Representação do homem pré-                                           histórico usando roupa feita de pele de animal.



                  Agulha e botão em osso.




As peles eram presas ao corpo com as próprias garras dos animais ou atadas umas às outras com nervos, tendões e até fios da crina ou do rabo dos cavalos. (Reconstruction of Neanderthal and Cro-Magnon).



                                    Ínuits ou Esquimós em vestimentas tradicionais.



















The oldest leather shoes found was in Armenia in 2008, in a cave complex named Areni-1, it is said it dates back to approximately 3500 B.C.


The top and bottom close-up images show in detail how the shoe was laced together with a strip of leather. The image on the right shows its smooth sole.













Museu Nacional da Dinamarca - Copenhague -
Antiga Vesimenta Inuit.


Como a maioria das outras artes têxteis e dos trabalhos com agulhas, várias técnicas da arte dos bordados surgiram no Oriente Médio. Nas civilizações antigas que se desenvolveram nas margens do rio Eufrates, a arte do bordado foi muito cultivada. Nas evidências históricas e arqueológicas disponíveis fora encontrado intacto um bordado completo feito em ponto cruz aplicado sobre linho, em uma tumba do alto Egito, preservada pelo clima seco do deserto, que data aproximadamente de 500 d.C.   


Agulhas e material de bordado antigos.


Egyptian double-running stitch                                                        embroidery from the Whitworth Gallery.


Fragment of Scarf or Cover - Date: 15th century - Linen, embroidered in silk and metal thread – Egypt - The Metropolitan Museum of Art (MMA), New York.


Fragment of Blazon - 15th century - Egypt - Leather, metal wire, wool, and cotton embroidery - The Metropolitan Museum of Art (MMA), New York.


Os egípcios foram considerados, como a maioria dos povos do Mediterrâneo, artistas talentosos. Nas classes altas e mais concretamente o faraó e os que frequentavam a sua corte, usavam uma túnica longa de linho muito fino e transparente, denominada Kalasyris (masculina ou feminina), ornamentada com bordados a ouro e pedras preciosas especialmente turquesas e lápis-lazúlis.
O Chanti (primeiro avental do qual se tem registro na história da moda) era uma vestimenta mais básica, usada por homens como uma saia e por mulheres, cobrindo todo o corpo. O modelo original era de tecido, geralmente linho ou algodão, usado como tanga e preso por um cinto, que terminava em banda pendente na parte frontal. Para Faraós e Dignitários, a peça era pregueada e bordada com motivos típicos da cultura egípcia. 


                Kalasyris ornamentada – Egito.


Bordado egípcio, século IV                                              d.C.


Chanti (masculino e feminino) retratados em escultura egípcia antiga.

































Chanti masculino retratado em                                                             esculturas egípcias antigas.



O bordado fino se desenvolveu, também, na Pérsia, na Babilônia, na Palestina e na Síria. Os materiais usados eram os mais inusitados, aqueles que fossem mais facilmente encontrados, como fragmentos de ossos, pérolas de marfim (chifres), conchas, asas de insetos, cabelos e peles de animais. A riqueza de um modelo dependia principalmente da criatividade de quem executava o trabalho. Pela sua antiguidade, o bordado pode ser considerado uma das primeiras manifestações das artes plásticas.


      Bordado antigo Persa.



Woman in Ramallah                                    costume. Photographed by Khalil Raad, 1920. Palestine.



Scraps of antique embroidered garments - Coptic community in Egypt.



Indumentárias bordadas, antigo Egito e Assíria.


Para os Incas, as roupas tinham um valor fundamental, elas demonstravam hierarquia e a posição social que a pessoa ocupava, tendo o mesmo efeito das joias, ou seja, quanto mais nobre, maior a complexidade da confecção de sua vestimenta, suas cores, seu formato e a qualidade do tecido. Os nobres Incas usavam roupas chamadas Cumbi que eram feitas com fibras de camelídeos (lhama, alpaca, guanaco ou vicunha) por tecelões muito habilidosos. Em outras ocasiões as roupas tinham um valor sagrado, pois eram objetos ritualísticos.

Isso pode ser constatado com a descoberta das múmias Incas em Paraca que estavam envoltas em mantos de cores vivas e bordados zoomórficos, revelando a importância da vestimenta para os povos dos Andes, visto que os Incas herdaram esse costume das civilizações anteriores. Os registros da arte de confeccionar roupas nos Andes são anteriores à metalurgia ou à cerâmica. Na caverna de Guitarrero foram encontrados tecidos feitos com fibras de vegetais que datam de 5.780 a.C., logo, produzir vestimentas é um valor cultural enraizado nos Andes e que permaneceu e ganhou força e importância a cada geração, pois vemos que eles não produziam apenas roupas para cobrir o corpo, mas as consideravam um adorno sagrado e de relevância social.


          Múmia encontrada em Paraca – Peru envolta em manto bordado.



Manto bordado pertencia a Atahualpa (último Imperador Inca) - Peru.


Na China, o bordado com fios de seda é passado de mãe para filha, pelo menos há 3.000 anos. Documentos históricos registram o uso do bordado na China já em 2.225 a.C. Descobertas arqueológicas, entretanto, situam os inícios do bordado em algum ponto durante a dinastia Shang (1766 a.C. a 1122 a.C.). A beleza dos bordados chineses espelham a delicadeza e a maestria deste povo que bordava com fios de seda multicoloridos. Durante a dinastia Han (202 a.C.-220 d.C.), essa forma de arte era vista como um habilidade a cultivar e era uma indicação do grau de educação da mulher. Moças refinadas eram cuidadosamente treinadas para usar habilidosamente a agulha e linhas de bordar. Em 1911, bordados chineses com fios de seda foram exibidos em Torino, na Itália, recebendo altas honras e reconhecimento. A partir daí, o bordado com fio de seda passou a ser respeitado no cenário mundial como arte, porque combina perspectiva artística com habilidade em nível altamente elevado.

Durante a violenta Revolução Cultural (1966 - 1976) levada adiante pelo Partido Comunista Chinês, a arte do bordado com fios de seda quase desapareceu. Nesse período, as artes de origem tradicional foram proibidas e tiveram suas obras destruídas. O bordado com fios de seda, a pintura, a caligrafia e outras formas de arte tradicionais foram desaprovadas pelo regime comunista da época. As formas de arte e expressão cultural  tradicionais foram rotulados de “burguesas” e em desacordo com uma visão coletiva. Oficinas de bordado foram abruptamente fechadas ou destruídas, e suas mestres-bordadeiras foram forçadas a carpir terra como camponesas do mesmo modo que os outros artistas e intelectuais da época. Criar coisas belas foi considerado frívolo na visão comunista. As coisas e as roupas eram feitas apenas para o trabalho duro e para ter durabilidade, não deviam ter adornos, enfeites e bordados. Com a Revolução Cultural, dentro de uma geração, a arte do bordado tornou-se mera lembrança na China.

Na década de 1980, o regime comunista, para sobreviver, precisou abrir economicamente a China para o mundo. Assim, a paixão pela arte tradicional, que tinha sido reprimida, teve licença para ressurgir e respirar. Mais uma vez, impulsionada pela instrução individual, as sofisticadas técnicas de trabalhar com o fio de seda foram lentamente resgatadas. Tendo sobrevivido à Revolução Cultural, os quatro principais estilos chineses de bordados com fios de seda – Suzhou, Sichuan, Guangdong e Hunan – voltaram a ser exibidos no exterior, encantando colecionadores de arte em todo o mundo.

Chinese summer court robe (dragon robe), c. 1890s, silk gauze couched in gold thread.


                             Yuan dynasty phoenix and flowers.



Northern Song dynasty (960–1127) Date: 11th–12th Century - China.


Gu embroidery being created - China.


Nos monumentos da Grécia antiga, aparecem figuras com túnicas bordadas. Os hebreus também usavam o bordado, cuja invenção atribuíram a Noema/Noah (descendente de Caim). Em várias passagens da Bíblia há referência à arte de bordar. O termo "bordadeira" já existia como nos mostra a Bíblia no cap.27 – Êxodo – falando de uma cortina artisticamente bordada. Homero fala dos bordados de Helena e Andrômaca, nos quais essas princesas documentaram episódios da guerra de Tróia. Na Antiguidade, os romanos descreviam o bordado como “a pintura de agulhas”.


Mulheres gregas trajando túnicas bordadas.


         Bordado antigo grego.


Traditional Yemeni wedding jewelry and clothes embroidery. Coral necklace and antique Jewish silver.


Ancient Hebrew garments embroidered.



Antique Bible with embroidery aplication 1607. Metropolitan Museum of Art.

Embroidery Medalion ‘Hercules and the Neaman Lion’ Coptic textile 400-700AD.


circa. 200 B.C. - early Chinese embroidery

4 comentários:

  1. Respostas
    1. Delia Corecco Steinernovembro 10, 2015

      Obrigado querida, que bom que gostou. Sempre fico feliz em poder dividir o mundo fascinante das artes com meus leitores. Grande abraço.

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  2. Cabe a mim apenas a descrição deste post em sentimentos como um fino bordado, feito com delicadeza sobre o tecido rústico da realidade...Parabéns pela belíssima pesquisa!

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    1. Delia Corecco Steinernovembro 10, 2015

      E cabe a mim lhe agradecer com todo meu carinho e amizade por estar sempre por perto transformando meu caminhar em uma trilha de luz. Bjs

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